Um museu de ruínas. Era um palácio. Decorado com gosto e sensibilidade pela imperatriz. Veio a revolução. Tudo foi destruído. Até a arte. Até a arte que representava a revolução. Hoje, é um museu. Nada foi tirado do lugar, no entanto. Os pedaços de tijolo, as molduras de ouro quebradas, os vasos estilhaçados, tudo foi deixado como estava logo após a invasão. É impecavelmente limpo pelos funcionários todos os dias. Levanta-se, por exemplo, um caco de vidro, passa-se o polidor de madeira no chão e coloca-se de volta o caco. Assim é feito em todos os cômodos. Até naquele em que está a cabeça da imperatriz e as de seus filhos. Carla, a melhor funcionária do museu, entra ali sempre às 7 da manhã, começa sua faxina e, cerca de 30 minutos depois, chega à cabeça. Já se passaram 5 anos desde aquela noite. A cabeça da imperatriz está em franco processo de decomposição. Por isso Carla usa luvas e as crianças que visitam o museu precisam de máscaras quando chegam nesse ponto do passeio. De fato, é um cheiro insuportável. Empesta todo o quarto. Na coroa há muito sangue coagulado. Vez ou outra, Carla sorri quando pega a cabeça em suas mãos para limpar embaixo dela. É engraçado notar que o sangue da imperatriz, agora, realmente tem um tom azul.